
Dra. Laís Bertoche
médica psiquiatra e homeopata
terapia familiar - constelação transgeracional
Integração entre autoconhecimento e espiritualidade

A MEMÓRIA NO SOFRIMENTO DIÁRIO
Sou uma frase resumida sobre o que será lido.
AGO 2017
Tudo o que vivemos, pensamos e desejamos fica registrado, não nas células cerebrais, densas e orgânicas, mas num “banco” de memórias acessado por sintonia vibratória chamado de “campo mórfico” pelo biólogo inglês Rupert Sheldrake. Esses registros são arquivados em nosso campo astral-emocional e disponíveis não apenas para esta vida, mas a todas as vidas enquanto estivermos ativamente sintonizados com elas.
Memória e evolução do ser
Durante o processo evolutivo da Alma Imortal, nos tornamos mais conscientes e responsivos aos mundos mais densos, desenvolvendo qualidades essenciais como a vontade, o entendimento, a inteligência e o amor. Esse contínuo aprendizado nos torna sábios e livres para expressar nossa essência.
Por outro lado, a percepção equilibrada, o justo pensar e sentir e a boa resposta aos problemas que a vida nos impõe são prejudicados pela contaminação com experiências de sofrimento do passado. Podemos perceber a influencia dessas memórias não só nas pessoas, mas também nos objetos e substâncias que nos cercam.
A memória no leite
Tomemos um exemplo: o médico homeopata Rajan Sankaran precisava de leite de leoa para uma experimentação homeopática e pediu ajuda a um veterinário, num zoológico onde havia uma que estava amamentando. Para colher o leite, a fêmea foi atraída para uma jaula de paredes móveis, que eram empurradas de modo que o animal ficasse totalmente imobilizado. Sob intensos protestos do animal, conseguiram algumas gotas do precioso liquido.
Bem, o medicamento foi preparado. O médico conta que durante a experimentação da substância, um dos experimentadores relatou o seguinte sonho:
Uma senhora da realeza com cabelos espalhados, tinha um olhar feroz. Ela havia sido completamente amarrada, pressionada de todos os lados. Algo de mal estava sendo feito a ela, que se agitava agoniada.
Surpreendentemente, o sonho falava do estresse sofrido pela leoa! Da mesma forma, observamos a importância da memória nos sonhos e crenças pelas quais norteamos nossa vida cotidiana.
Imagens e formas de pensamento se condensam e se organizam em padrões no campo astral de cada pessoa, formando um complexo sistema de experiências e crenças ativado a cada vez que surge uma experiência semelhante. São histórias inacabadas que nos aprisionam no passado e nos impedem de viver integralmente a vida atual.
Liberando complexos
A Terapia Transgeracional tem por objetivo liberar esses complexos de memória. Guiado pelo cliente, o terapeuta identifica o sintoma e, num estado ampliado de consciência, conduz a pessoa para a experiência original, auxiliando-a na ressignificação e liberando as personagens que permaneceram aprisionados no campo de consciência.
A história de Alzira
Lembro-me de dona Alzira, hoje com 62 anos. Seu marido era o braço direito na empresa de seu tio, que o tinha em grande conta e consideração. Há mais ou menos 15 anos, o tio morreu num acidente.
Imediatamente, a viúva demitiu o sobrinho e ordenou à família de Alzira que saísse do imóvel que ocupavam, cedido a eles pelo falecido.
Começava o sofrimento da jovem senhora, que, agora sem recursos e com o marido desempregado, precisava arrumar às pressas um local para morar.
Alzira não se conformava e chorava o tempo todo. Passava as noites em claro e o dia na cama, pois nada mais lhe interessava. Sem prazer em nada, seu refugio era a comida. O aumento de peso provocou dores nos joelhos e nos pés, nos ombros e nas costas, além de vertigem. Desenvolveu também um mau humor crônico, rejeitando qualquer coisa que lhe oferecessem ou fizessem.
Religiosa, ela afrontava Deus, via vultos que dela escarneciam e a perseguiam, dizendo que ela não valia nada, que tinha que ir embora daquela casa, e que deveria voltar para a sarjeta, onde era seu lugar.
Avaliando o caso e as condições da paciente, decidi utilizar a técnica da Constelação Transgeracional, convidando a filha (que a acompanhava à consulta) e uma terapeuta assistente para representar os personagens atuais.
Logo no inicio da sessão, percebemos que o sofrimento teve origem numa disputa de terras iniciada há mais de quatrocentos anos, numa região de rios e terras férteis, habitada por índios: homens com suas famílias invadiram o local, exterminando a todos que viviam ali.
Muitas gerações depois, novamente a área tornou-se objeto de disputa: sem o consentimento dos demais, um dos descendentes vendeu as terras a uma numerosa família, que expulsou ou matou a todos que se recusaram a sair do local.
Hoje, reaparece o mesmo tema: aquele que foi prejudicado no passado reclama a reintegração da terra (o apartamento), cedido à família de Alzira. A diferença é que desta vez a filha mais velha tomou a corajosa decisão de trabalhar muito e comprar uma casa para elas, já que o pai morreu de câncer pouco mais de um ano após ficar desempregado.
De qualquer modo, a conciliação e o perdão foram passos difíceis, mas tornaram-se possíveis quando os personagens do passado perceberam suas responsabilidades na sequencia dos acontecimentos.
Hoje, Alzira está dormindo bem. Conta, com graça e humor, histórias de sua vida e de como conseguiu superá-las. Está feliz e em paz com seu destino.