
Dra. Laís Bertoche
médica psiquiatra e homeopata
terapia familiar - constelação transgeracional
Integração entre autoconhecimento e espiritualidade

FAMÍLIA:
AMOR QUE CURA
Nascemos para amar e sermos amados.
MAR/2019
Tudo isto vos fará o amor, para poderdes conhecer os segredos do vosso coração, e por este conhecimento vos tornardes
o coração da Vida.
Khalil Gibran, sobre O Amor
O amor é a força mais poderosa do Universo, que juntamente com sua contraparte, a força de repulsão, mantém a Vida manifesta. É o combustível que alimenta a alma humana e o que nos conduz ao propósito: nascemos para amar e ser amados.
Entranhas familiares
Quando pensamos em família ideal, imaginamos vínculos construídos a partir de laços de amor e intimidade. Mas nem sempre foi assim. Até o Renascimento, o casamento entre os nobres era um contrato firmado pelos pais para a construção de alianças e benefício dos negócios familiares. Escolhas e afeto eram irrelevantes. As relações conjugais visavam mais à criação e à manutenção da família do que ao prazer sexual.
Por outro lado, as questões econômicas eram de menor importância na vida dos camponeses pobres, o que permitia que a escolha dos parceiros se baseasse mais na atração e na afeição mutua.
Segundo o historiador George M. Trevelyan, o amor como base para o casamento – embora ainda não a única – surge na literatura a partir do século XV e começa a ascender na escala social até a era moderna, quando se estabelece como regra básica.
Hoje, com tantas mudanças sociais, será que o amor erótico continua sendo a base para as relações de casal?
Jeitos de amar
O amor fraternal (στοργη, storge) é o afeto que nasce entre os membros da família e geralmente se estendem aos que pertencem ao mesmo grupo social. Surge de modo espontâneo e natural em função da familiaridade, e geralmente transcende a maioria dos fatores discriminatórios. Se a harmonia prevalece, temos um sentimento de pertencimento, a manutenção de uma ordem de precedência e o equilíbrio entre o dar e o receber. Casais que cultivam o amor fraternal podem ser bem felizes, embora talvez lhes falte um pouco de fogo...
Há relacionamentos que começam pelo amor da amizade (φιλια, filia) que nasce da afinidade. Trata-se de laços afetivos desenvolvidos há muito tempo, em que não se espera nada em troca. Sua expressão é de total familiaridade e intimidade, geralmente não encontrada nas relações parentais ou no amor erótico: um amigo é sempre amigo e não há ordem de precedência entre eles, mas a alegria no equilíbrio entre o dar e receber, com apoio nos momentos difíceis. Por isso, a amizade é considerada o maior dos bens.
Há casais que cultivam o amor da amizade, além do amor erótico (έρως, eros), embora este se caracterize pela expectativa de satisfação pessoal em primeiro lugar.
Amor erótico
Eros tem como base o prazer sensual, isto é, a satisfação proporcionada pelos cinco sentidos e, claro, o desejo sexual. Necessário para o desenvolvimento pessoal, Eros é a pulsão que sustenta a reprodução da vida.
No momento em que o homem e a mulher se tornam uma só carne, perpetua-se a vida humana sobre a Terra e se refaz a união entre o Céu (Deus) e a Terra (o Homem). Lembra o Papa Bento XVI que “somente quando ambos (corpo e alma) se fundem verdadeiramente numa unidade é que a pessoa se torna plenamente ela própria. Só assim é que o amor – Eros – pode amadurecer até sua verdadeira grandeza”.
Eros impele os seres ao amadurecimento, a superar suas frustrações e a caminhar em direção ao outro; a estarem juntos e permanecerem ligados, apesar das diferenças.
Amor incondicional
O amor incondicional (αγαπη, ágape) é o amor de Deus por sua criação e por cada um de seus filhos. Ágape se desenvolve na consideração do outro, se ama o outro como se quer ser amado – identificando no outro a mesma luz que brilha na própria alma, na certeza de que ele também quer fazer a coisa certa e dar o seu melhor.
Paulo, na I Carta aos Coríntios (1Cor 13:4-6,11), diz que “o amor é paciente, o amor é bondoso. Não inveja, não se vangloria, não se orgulha” (4), e não se irrita, nem revida, pois sabe que o insulto é o reflexo do sofrimento que habita o coração do agressor.
Quem ama “não maltrata, não busca os seus próprios interesses, não se ira facilmente, não guarda rancor” (5-6), pois “o amor não se alegra com a injustiça, mas se alegra com a verdade”, refletindo no exterior, a paz que traz no coração.
Aquele que ama sabe, por experiência, que pensamentos, palavras e ações são forças sutis que, pela Lei de Sintonia, cedo ou tarde, se materializam e direcionam os acontecimentos. Assim, também a verdade e a paz atraem relações harmoniosas e prosperidade.
“Quando me tornei homem, deixei para trás as coisas de menino” (11), diz Paulo. Quando se é criança, é difícil considerar as necessidades das outras pessoas e inúmeras são as causas de frustração. O amadurecimento amplia a percepção e compreensão das próprias limitações, sendo mais fácil colocar-se no lugar do outro e abrir as portas para o entendimento e o amadurecimento do amor.
O verdadeiro aprendizado
Independente da família ser constituída por casais jovens ou maduros, mães e pais solteiros, uniões hetero ou homoafetivas e tantas outras, só pessoas maduras e amorosas sentem contentamento ao postergar seus desejos e necessidades para que o outro seja feliz. Mas há de equilibrar o que se dá e o que se recebe, para que a relação não se dissolva pela contração de dividas emocionais impagáveis.
É nas relações, e principalmente nas relações familiares, que aprendemos a importância dos valores. Aprendemos que não devemos ferir ninguém, que ninguém deve querer errar nem magoar o outro, mas que os conflitos internos nos levam a agir mal. Oentendimento expande e ilumina nosso coração, levando-nos aos poucos a incluir e aceitar todas as pessoas e circunstâncias exatamente como são. Na família aprendemos a perdoar e desenvolvemos a paz e a compaixão que cura.
Convite para Oficina da Alma
Todos almejamos a felicidade. Mas crenças e hábitos herdados das famílias de origem, da sociedade em que vivemos e das nossas próprias frustrações e medos, nos confundem, impedindo nossa autonomia e atrapalhando a liberdade de expressar o amor e a alegria da alma imortal que nos habita.
A Oficina da Alma objetiva aprofundar o conhecimento das relações entre o mundo físico e espiritual, através de dinâmicas que visam o autoconhecimento e o desenvolvimento de recursos para liberar padrões e crenças limitantes (memórias), libertando a pessoa para expressar sua verdadeira natureza.