
Dra. Laís Bertoche
médica psiquiatra e homeopata
terapia familiar - constelação transgeracional
Integração entre autoconhecimento e espiritualidade

A MENINA DA FOTOGRAFIA
Um relato de caso real.
SET 2017
No álbum de fotografias da festa dos cinco anos, de pé entre as tias, Valentina observava uma menina de olhos tristes, com uma grande fita caindo dos lisos cabelos negros, segurando uma boneca. Perguntava às tias e à mãe:
- Quem é ela?
Ninguém sabia...
O tempo passa. Às vezes, em sonho, encontrava a menina abraçada à boneca, dizendo estar sozinha, presa dentro do armário. Assustada, Valentina corria para a cama dos pais e demorava a dormir novamente.
Já se passaram 20 anos. Apesar de ter terminado a faculdade de Pedagogia com excelentes notas, apesar dos amores e amigos, Valentina continua se sentindo angustiada e sozinha, como se ninguém se importasse com ela. Profissionalmente está sempre insatisfeita, acreditando ser incapaz de realizar o que lhe pedem e inapropriada para desempenhar suas atividades.
Insegura e desconfiada, imagina que não tem o apoio das pessoas. Deprimida, sente-se claustrofóbica em lugares apertados e tem medo de que algo sinistro e catastrófico aconteça.
Precisa da companhia de pessoas e sente que não conseguiria viver longe de sua família. Por isso, mudou-se com a mãe para uma pequena cidade do nordeste, largando seu emprego no Rio de Janeiro. Apesar do apoio constante dos parentes, o sentimento de vazio e angustia têm se agravado.
Sua tia propôs que ela fizesse um tratamento comigo, via Skype.
Começamos o atendimento na hora prevista. A transmissão da imagem estava bem nítida, permitindo ver os traços finos e delicados de
Valentina: cabelos claros encaracolados, olhos grandes e atentos emolduravam um belo sorriso.
Depois de conhecer o motivo da consulta – sua tristeza e sentimento de vazio crônico – e identificar por onde deveríamos começar, peço que esteja confortável, focando sua atenção na luz que brilha no coração, induzindo um leve transe. Quase que imediatamente o sorriso se desfaz, dando lugar a uma criança chorosa e melancólica.
Para meu espanto, o rosto da jovem na tela do computador começa a mudar: os cabelos e a pele escurecem e tomam outra forma; a face vai se modificando e a imagem perde a nitidez – mas apenas do rosto, enquanto todo o resto da cena continua clara e natural.
Pergunto quem é esse novo personagem, e se apresenta uma menininha de 5 anos, abraçada a uma boneca dizendo que a esqueceram de castigo dentro do armário. Nesse instante, Valentina se lembra da fotografia antiga e de seus sonhos recorrentes.
Aos poucos auxilio a pequena a lembrar-se dos últimos momentos antes de entrar no guarda-roupa. Ela diz que seus pais, muito nervosos, mandaram-na ficar quieta ali dentro, e que não deveria sair por nada. Assustada, ela escuta pessoas falando lá fora e depois uns estampidos surdos. E espera. E espera. E ninguém vem abrir a porta. Fome, sede, frio, angústia e solidão. Um vazio imenso. Agarrada à sua boneca, espera em vão.
Morreu ali. Em seus poucos anos de vida, a menininha não pôde compreender o que havia acontecido. Hoje minha paciente pode olhar novamente a cena e entender: eram de família Judia e por isso foram perseguidos e mortos.
Voltei minha atenção à menina: precisava encaminhá-la. Seus pais estavam ali para confortá-la e levá-la para o Mundo Espiritual. Ao vê-los, o rosto da pequena se iluminou: eles vieram buscá-la! Estava livre agora!
Surpreendentemente e imediatamente a tela recobra o foco no rosto de Valentina, que, surpresa com a história, quer procurar o álbum do aniversário.
Compreende o sonho, desejando que finalmente a menininha encontre alegria e paz. Sentindo-se bem e segura, afirma que o sentimento de vazio e angustia se foram.
“Agora tenho meu lugar no mundo – há um contentamento e uma paz que vem do coração”.
Encerramos a consulta.
Aprendi algumas coisas nesses 25 anos trabalhando com estados ampliados de consciência. A mais importante é: o corpo morre, mas a
Alma é imortal.
Quando uma vida é ceifada bruscamente, não há tempo para que a mente tome consciência e se dê conta de que o corpo morreu.
Algumas mortes favorecem a continuação da inconsciência: acidentes, assassinatos, tortura, doenças agudas e sempre que há um estado de inconsciência do corpo (drogas, sedação, etc.). Nesses casos, o Ego (ou personagem atual) tende a permanecer nas imediações do corpo físico morto, sentindo certa estranheza e sem compreender porque as pessoas não lhe falam. É comum verbalizarem que estão num vácuo, perdidos e sozinhos.
Identificar a origem da história do personagem de vida passada ou do personagem intruso (obsessor - CID-10: F44.3) pode produzir a cura dessas memórias e a liberação do personagem passado para o mundo espiritual.
Essa ação liberta e possibilita ao personagem atual viver seu próprio destino no aqui e no agora.